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4 de ago. de 2010

Teto


Estou cansada das imagens belas que se propagam nas poesias diversas, nos cantos campestres e na bateria urbana.


Não suporto mais escutar sobre o piar do pássaro que, enjaulado por quatro estacas, se detém somente para contemplar o céu, o único refúgio de sua liberdade. Nem mesmo consigo ouvir sobre a poeira dos carros que sobe do asfalto e sufoca a massa - cimento pensante que recheia o fundo oco de um compartimento refratário ao avesso.


As coisas do mundo estão usadas, imundas. Por tanto uso e desuso de suas infrações, a roupa que vestia agora está suja, manchada, cheira a acre e estimula o desalento. Em imaginar que um dia as próprias coisas do mundo se enfezariam delas mesmas, e se jogariam a mendigagem completa!


Em pensar.

Refletindo sobre o mundo lá fora, daqui onde estou... Não na janela já cansada, mas deitada com os olhos postos no teto, reparo que a vida descrita há muito tempo como um sopro de puro gozo e desespero, na verdade é menos do que o suspiro de dois corpos unidos - é um fechar de olhos. Acordamos por minutos, minutos esses que levam as nossas experiências na pálpebra... E depois um nada. Um escuro, uma barreira feita de impotência existencial.


Tudo acaba como num deslance.


Estou cansada, o teto do quarto parece chegar mais perto e encarar minha falta de coragem de levantar da cama e encarar minha falta de coragem em levantar da cama... Cinco e meia.


E tudo são palavras, apenas.

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