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29 de ago. de 2010

Escondo-me em meio as pessoas
para que no meio delas, ninguém me encontre.
Os olhos, se movimentam, vagueam e não vêem.
Passam as luzes dos faróis sobre as cabeças, olham além...
em meio aos iguais eu sou ninguém.
Nem conhecidos, transeuntes, vem a sombra
e dão de ombros e revolvem escombros.
Em transe, giram as órbitas para trás
possuídos pela realidade que bloqueia
a percepção que os rodeia.

6 de ago. de 2010

Fio da...

Na vida há cenas que nos chamam a atenção e para o escritor a observação é importantíssima.

Foi numa cena do filme “O caçador de Pipas” que fui impactado pelo mote da morte. Lembrei-me de minha infância quando morria alguém. Era uma época em que os velórios eram realizados nas casas e tínhamos um contato maior com a realidade e o fato de que também vamos morrer.

Hoje criam-se super heróis. O avanço da medicina é notório. As pessoas vivem mais. Porém morrem, cedo ou tarde morrem. Já o contato diário com o fato de se morrer se dá apenas pelos telejornais ou notícias de boca a boca de que fulano morreu. Outrora, ainda que não fôssemos ao enterro, íamos aos velórios. Fazíamos questão de tocar na alça do esquife acompanhando o cortejo. Isso, mesmo as crianças.

Hoje há o esfriamento dos sentimentos. Parece que ninguém se importa. Sentimos os pêsames, as condolências por alguém apenas quando se trata de alguém muito próximo como pai, mãe, etc. De resto, digo isso não ignorando aos outros seres humanos, há um distanciamento da morte. Como se ela nunca fosse chegar. Mas a cada dia de vida, revela-se um da morte. Cada minuto ganho, também é um que se perde e nos aproximamos mais dela.

Morrer é inevitável. É a única certeza da vida. Gramaticalmente falando, morrer é um verbo intransitivo. Intransitivo porque a morte não transita entre nada. Quando ela chega, cessam os movimentos, os batimentos e o corpo inerte cai, independente de onde esteja: no hospital, na rua, no avião, na direção de um carro, escreven...

4 de ago. de 2010

Teto


Estou cansada das imagens belas que se propagam nas poesias diversas, nos cantos campestres e na bateria urbana.


Não suporto mais escutar sobre o piar do pássaro que, enjaulado por quatro estacas, se detém somente para contemplar o céu, o único refúgio de sua liberdade. Nem mesmo consigo ouvir sobre a poeira dos carros que sobe do asfalto e sufoca a massa - cimento pensante que recheia o fundo oco de um compartimento refratário ao avesso.


As coisas do mundo estão usadas, imundas. Por tanto uso e desuso de suas infrações, a roupa que vestia agora está suja, manchada, cheira a acre e estimula o desalento. Em imaginar que um dia as próprias coisas do mundo se enfezariam delas mesmas, e se jogariam a mendigagem completa!


Em pensar.

Refletindo sobre o mundo lá fora, daqui onde estou... Não na janela já cansada, mas deitada com os olhos postos no teto, reparo que a vida descrita há muito tempo como um sopro de puro gozo e desespero, na verdade é menos do que o suspiro de dois corpos unidos - é um fechar de olhos. Acordamos por minutos, minutos esses que levam as nossas experiências na pálpebra... E depois um nada. Um escuro, uma barreira feita de impotência existencial.


Tudo acaba como num deslance.


Estou cansada, o teto do quarto parece chegar mais perto e encarar minha falta de coragem de levantar da cama e encarar minha falta de coragem em levantar da cama... Cinco e meia.


E tudo são palavras, apenas.

3 de ago. de 2010

Prisma


Sou todos mas não sou ninguém.
Se paro e olho no espelho, vejo espectros de almas que vão se articulando alternativamente.
Não obedeço ordens adversas do meu psicológico, ao contrário do que minha forma sugere. Eu sigo em um acordo formal com a mente, em uma camaradagem com o emocional e uma pequena troca de favores e concessões entre "querer" e "dever".
Sou plural, advento do "s" final que sigulariza minhas características mais engraçadas... E não me digam que sem o singular não posso ser feliz! Oras, para isso existem as características sérias coletivizadas nelas mesmas.
Ninguém consegue mapear o que gosto, porque sou apaixonado por tudo! Menos por aqueles...
Quando me veem e fingem que não entendem o único corpo que governa uma comunhão cerebral, eu sorriso falsamente - simplórios.
Meu gênio esquizofrênico pela popularidade das minhas mentes, não suporta afetações - por mais que às vezes eu me valha delas!
E com todo corpo massificado de vários, sou único. Porque único é meu seguimento... Que se ramifica em termos, mas sempre volta ao central.
Sou núcleo, sintagma verbal acoplado de semântica adversa. Sou indivíduo, coletivo, e o inicio de tudo que me espera.

1 de ago. de 2010

Jornada


Sonolento: "Saio às seis da manhã. O vento frio desta cidade, a garôa desta cidade. E caminho...
Longe, longe eu fui. Fui procurar. Como raízes cegas que se enterram a vasculhar a escuridão clara da terra por dentro; que reflete a terra de fora.
Doce, manso vento que bate em meu rosto. Mostre-me o caminho do fim desta paixão, que procuro.
Temo. Mas o caminho me ajuda, me lembra que não há nada a fazer senão enfrentá-lo.
E sonho, e caminho, e terra, e vinho.
E vou pelo tempo, que passa e não me movo. O mundo gira, gira, girassol, gira-gira como criança inocente... levada.
Na poça da calçada o rosto que reflete não é meu. De quem será essa cabeleira grisalha, essa ruga, essa barba? Se sou ainda criança, penso. Penso que sou. Só penso, peso dos tempos...
Me perdi, me fui. O tempo passou e eu não vi."
...
Em voz alta: "Voltei! Mãe, estou em casa."